“Todas as
condições se reúnem assim para que exista uma dominação
perfeita, para uma exploração apurada das pessoas, ao mesmo tempo
como produtores, como consumidores de produtos, como consumidores de
espaço” (HENRI LEFEBVRE)
Além
da violência urbana, outro fato divulgado constantemente na mídia
sobre a Serra é o expressivo crescimento do mercado imobiliário nos
últimos anos. Diferentemente dos municípios de Vitória e Vila
Velha, o produto imobiliário “padrão” no município é o
condomínio fechado, de casas ou edifícios. Outra novidade recente
na cidade é a proliferação de centros comerciais, mais conhecidos
como shopping centers,
de diferentes portes. Alguns se encontram em funcionamento, outros em
construção ou como projetos. O fato é que esses “templos do
consumo”, como os denomina Milton Santos, participarão cada vez
mais do cotidiano do cidadão serrano, como de outras cidades
capixabas.
De
um modo geral, a grande mídia anuncia tais empreendimentos como
representação do moderno
e do conforto: “É o lugar onde encontramos de tudo!”. Além
disso, é ressaltado o papel dos shoppings
na geração de
emprego, seja durante as obras ou quando estiverem em funcionamento.
Ou são poucas as vezes que a Camila Domingues (repórter da Rede
Gazeta) anuncia, toda sorridente (!), as vagas de emprego em tais
setores no telejornal da hora do almoço?!
Mas
nem tudo que reluz é ouro, e nem tudo que é bom, é realmente bom
para todos. Os shopping
centers, assim como os
hipermercados, possuem um papel estratégico para a reprodução da
sociedade contemporânea baseada na produção e no consumo de
mercadorias. Por um lado, a construção de tais equipamentos urbanos
(como os condomínios fechados) representam grandes possibilidades de
ganhos para incorporadoras, tornou-se um ótimo negócio produzir
espaço
como salienta diversos estudiosos da cidade. Por outro, o shopping
center, com seu
atrativo micro-climático associado a comodidade, se revela como
lugar privilegiado para o consumo. Mais que isso, tais espaços
privados encerram cada vez mais a realização da vida cotidiana por
meio do consumo, em função das atividades diversificadas (não
apenas comércio, o shopping
virou sinônimo de lazer) e do tempo (abertos até mais tarde e
inclusive aos domingos).
O
shopping
center
representa uma mudança não apenas da forma,
mas do conteúdo de nossas cidades, de como nos apropriamos delas.
Para ilustrar essa passagem vou recorrer a uma passagem da minha
infância. Quando criança, em Taquara II (Serra), era muito comum
passar as tardes de domingo no chamado “Campão”, um campo de
várzea careca (hoje tem grama e está alambrado), enquanto rolava o
jogo de futebol entre os adultos, eu e meus amigos jogávamos
“travinha” (furingo) na lateral do campo. Era um verdadeiro
“evento” do bairro. Gastávamos muita energia, e nada de grana.
Hoje essas práticas têm se enfraquecido, inclusive nas periferias.
Grande parte das pessoas tem aproveitado o tempo “livre” em
outros espaços, agora nos espaços privados como os shopping
centers, centros de futebol socyte, clubes etc. Aquele
tempo que era “livre” foi apropriado pelas relações de
produção, não como trabalhador, mas como consumidor.
E
para fechar o assunto, é importante salientar o preço que se paga
(e quem paga!) pela comodidade e pelo conforto dos shoppings
tão apregoados. Recente matéria do Brasil
de Fato revela que os
trabalhadores do comércio são um dos que mais sofrem com extensas
jornadas de trabalho (até 60 horas semanais!) e baixas remunerações.
Embora sempre estejam com aquele sorriso no rosto, como daquele jovem
feliz e superexplorado que trabalha em uma grande rede de fast
food.
Referência:
Brasil de Fato, Edição de número 476, Ano 10.
Msc. Thalismar Gonçalves
AGB-Vitória
Professor de Geografia da Rede Estadual de Ensino
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