quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Vozes da cidade: 3

Recado deixado em um muro de uma das entradas do bairro Laranjeiras Velha, Serra-ES, nas proximidades da BR 101. Esse bairro, com mais de 30 anos de existência, não conta com uma praça e equipamentos esportivos. Trata-se de um bairro adensado com poucos vazios urbanos. Em uma área onde existia um campo de futebol, que poderia dar lugar a uma praça com quadras, está sendo construído mais um condomínio fechado na Serra. O que é mais importante para a população: uma área de lazer  ou um grande condomínio com muros altos e estrutura de lazer privada? 
Mais um condomínio fechado construído pela Morar/Cyrela na Serra

Postado por Thalismar 


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Despejo em Vila Velha

Ontem o Estado se mostrou PRESENTE mais uma vez no ES, em Vila Velha. Várias famílias tiveram suas casas demolidas para reintegração de posse de um terreno. Dessa vez, o discurso do policial até relativizou a condição dos morados, afirmando que eram mais vítimas que "invasores". No entanto, o foco no suposto comerciante ilegal de lotes obscurece outras questões: 1) ao reconhecer que os ocupantes são vitimas, o Estado deveria ter outra atitude a não ser demolir as casas, deixando os pertences da família na rua. Portanto, como ocorrem em outras cidades brasileiras, os cidadãos despejados não são tratados com dignidade.; 2) esse problema é reflexo direto de uma histórica política habitacional ineficiente; 3) o Estado garante o direito a propriedade privada da terra, no entanto, não garante o direito fundamental que é o acesso a moradia digna. 

18/12/2012 às 13h33 - Atualizado em 19/12/2012 às 13h23

Famílias têm casas demolidas durante operação de reintegração de posse em terreno de VV

TV Vitória
Redação Folha Vitória
Reprodução TV VitóriaVinte e um policiais militares e dois oficiais de justiça foram acionados na manhã desta terça-feira (18) para o cumprimento do mandado de imissão de posse imediata de um terreno no bairro Morada da Barra, em Vila Velha.
A determinação do juiz Cleanto Guimarães Siqueira foi de devolução do terreno à Sociedade Imobiliária Hércules Limitada. A área estaria sendo loteada desde 1985 e comercializada por Izidoro Pereira das Neves, que não foi localizado no local.
Leia matéria na integra: http://migre.me/cs9tv
Postado por Thalismar


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Programa de Mobilidade Urbana do Governo do ES

Uma matéria de maio desse ano, do Gazetaonline, com as principais intervenções previstas no Programa de Mobilidade Urbana do Governo do ES. Serão investidos cerca de R$ 3 bi nos próximos anos. Trata-se de grandes obras viárias: criação e ampliação de novas vias, ponte e até  projeto para um túnel entre Vitória e Vila Velha. O pacote de investimentos reforça e revela a perspectiva do Estado para a resolução dos problemas da mobilidade urbana na Grande Vitória: mais e mais obras.... para depois, quando o trânsito estiver novamente saturado, realizar mais e mais obras....(lhttp://cidadecomodireito.blogspot.com.br/2012/03/mobilidade-urbana-uma-questao-de.html) 

Vitória e Serra vão ganhar túneis para facilitar trânsito

Programa anunciado por governo ontem tem investimento total de R$ 3 bilhões

14/05/2012 - 22h48 - Atualizado em 14/05/2012 - 22h48
Maurílio Mendonçamgomes@redegazeta.com.br

Vitória terá uma cara nova, até 2014, graças ao pacote de investimentos que o governo estadual planeja para os próximos anos. O Programa de Mobilidade Metropolitana foi lançado ontem e terá um investimento de R$ 3 bilhões. As intervenções incluem ampliação da Avenida Leitão da Silva, que terá túneis, e a abertura da Praça do Cauê, após mudança de parte das cabines de pedágio para Vila Velha.

O Estado já divulgou que vai desapropriar uma grande área no entorno da Avenida Carioca, na descida da Terceira Ponte, em Vila Velha, para instalar as cabines de pedágio.

"Vamos abrir a Praça do Cauê, melhorando a urbanização em laterais e calçadas para o trânsito fluir direto para a ponte", adianta o secretário estadual de Transporte e Obras Públicas, Fábio Damasceno.

Separação
Essa intervenção será feita numa primeira etapa até 2014. Na segunda fase, para 2016, estuda-se a possibilidade de construir túneis sob a praça. Eles servirão para separar o trânsito comum do fluxo dos ônibus. Ainda serão construídos túneis no cruzamento entre as avenidas Leitão da Silva e Marechal Mascarenhas de Moraes, a Beira-Mar. "Essa parte será a segunda etapa, a ser executada junto da primeira (ampliação da via). Devemos entregar tudo até 2014", frisa Damasceno.

Norte-Sul


O Estado também prevê túneis para a Rua João Palácio, entre a BR 101 e a Avenida Norte-Sul. A primeira etapa, a de duplicação, termina em 2012, ficando os túneis (no entroncamento com a Norte-Sul) para daqui a dois anos.

"Nas duas intervenções, queremos reduzir o tempo do semáforo, caindo de três tempos para dois tempos, eliminando cruzamentos e liberando a via para o tráfego, principalmente o de ônibus", avisa o secretário de Transporte. 
Leia na íntegra: http://migre.me/bIrwq
Leia também: Mobilidade urbana: uma questão de engenharia ou uma questão política?
http://cidadecomodireito.blogspot.com.br/2012/03/mobilidade-urbana-uma-questao-de.html

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

I Seminário Aberto de Mobilidade Urbana da GV (I)

Cicloativismo, Mídia e Passe Livre (proposta do Governo do ES)


Conforme divulgamos no Blog, no último dia 26 foi realizado o I Seminário Aberto de Mobilidade Urbana da Grande Vitória, organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL-GV) em parceria com a AGB-Vitória. No período da tarde, o seminário foi composto por Grupos de Trabalho (GTs) com temáticas específicas: Cicloativismo: bicicleta como meio de transporte, Mídia e Mobilidade Urbana e Passe Livre do Governo. Inicialmente, os GTs iriam se reunir em salas diferentes, no entanto, no transcorrer do processo de formação, o coletivo optou por realizar um diálogo a partir dos três temas supracitados.
Reuniram-se na sala 07, do IC IV, cerca de 30 pessoas de diversos segmentos da sociedade capixaba preocupados com a questão da mobilidade urbana: estudantes de diversos cursos da UFES (pedagogia, jornalismo, ciências sociais, geografia, serviço social e educação física), estudantes secundaristas, funcionários da Ceturb-GV e militantes diversos (MPL, Movimento “Minha Casa, Minha UFES”, Cicloativistas, etc).
A partir de um rico diálogo foi possível identificar algumas questões importantes sobre os desafios para a construção de outra mobilidade urbana na Metrópole da Grande Vitória:
Diálogo entre os  GTs 

Bicicleta como meio de transporte:
- A maioria das pessoas que utiliza a bicicleta em seu cotidiano não tem plena consciência do significado dela como meio de transporte;
- A mobilidade urbana envolve uma questão de paradigma. Portanto, requer um outro olhar sobre a cidade e o meio de transporte;
- Em um raio de 5 a 7 km, a bicicleta é melhor meio de transporte urbano, o que não leva em conta necessariamente o tempo percorrido, mas também o significado para a cidade como um todo.


Mídia e Mobilidade Urbana:

- O Governo do Estado “vende” a ideia do BRT (Bus Rapid Transit) como solução para o problema da mobilidade urbana na Grande Vitória;
- Nesse discurso do Governo, que é difundido na grande mídia, contém uma falácia: o BRT estimularia o abandono do carro individual pela população;
- A mídia alternativa como mecanismo importante de denúncia, mas também de mobilização da base dos movimentos sociais, como é o caso do MPL;

Passe Livre do Governo do ES:

- Após grande mobilização por parte dos estudantes e militantes do MPL, o Governo tem ampliado a gratuidade do Sistema Transcol para estudantes secundaristas da rede pública e universitários (com determinada faixa de renda). O Governo denominou esse projeto de Passe Livre.
- O Governo se apropriou do termo Passe Livre, reduzindo o seu verdadeiro significado. O que aparentemente emerge como uma conquista, tem servido como instrumento para o governo contestar os movimentos sociais como o MPL;
- Na concepção do MPL, Passe Livre se refere a um outro modelo de gestão e transporte urbano, estruturado como serviço público de fato e, portanto, com Tarifa Zero.

Outras questões:

- Debate entre BRT e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos): alguns presentes defenderam o VLT como o meio transporte de massa mais adequado para o caso da Grande Vitória. No entanto, outros afirmaram que a questão BRT X VLT é, na verdade, um falso debate, pois não se discute os interesses privados envolvidos em ambos  projetos.

Em breve postaremos sobre o debate que ocorreu a noite com a participação de Flávio (AGB-Vitória), Lúcio Gregori, Abuzin (MPL-GV) e André (MPL-Curitiba).

Postado por Thalismar 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ciclofaixa ou pista para carros? [Serra]


Matéria do Gazeta Online mostrando como o espaço das bicicletas não são respeitados. Na verdade, também presenciamos diariamente o desrespeito com o espaço dos pedestres, na medida em que muitos motoristas utilizam as calçadas como estacionamento. É uma cidade cada vez mais privatizadas pelos carros. 

25/10/2012 - 13h55 - Atualizado em 26/10/2012 - 14h03

Carros ocupam ciclovia em bairro da Serra e colocam ciclistas em risco

O desrespeito aos ciclistas ocorre diariamente na faixa situada na Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes, no Bairro São Diogo I, na Serra

  • Share on emailRedação Multimídia
GAZETA ONLINE
Já não existem muitas ciclovias na Grande Vitória, e, nas poucas existentes, os ciclistas são obrigados a dividi-las com automóveis. É o que ocorre no bairro São Diogo I, na Serra, onde, diariamente, motoristas se aproveitam da faixa exclusiva às pessoas que trafegam de bicicleta para ganhar tempo no acesso à BR 101 Norte.

O internauta Geraldo Feitosa de Santana passa constantemente pela Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes e decidiu gravar o desrespeito às leis de trânsito. "Isso é diário. Os motoristas trafegam pela ciclovia, não deixam espaços para os ciclistas e ainda colocam a vida deles em risco, pois as chances de acidentes são grandes", lembrou.
Veja vídeo


Mas ciclofaixa ocupada por veículos não é exclusividade dos moradores da Serra. Na Rodovia Serafim Derenze, em Vitória, é raro presenciar bicicletas utilizando o espaço delimitado a elas, afinal a ciclovia se transformou em estacionamento, como mostra a reportagem especial do Gazeta Online.


Fonte: http://migre.me/bqFBf
Postado por Thalismar

sábado, 27 de outubro de 2012

Bicicletada - Vitória/ES

A bicicleta representa uma importante alternativa para o problema da mobilidade urbana em nossas cidades. No entanto, esse meio de transporte não é tratado com a devida seriedade pelo Poder Público. Em vez de construir ciclovias, o Poder Público prioriza as grandes obras ligadas ao modelo de transporte motorizado individual. Com intuito chamar a atenção para a relevância da bicicleta como meio de transporte, será realizada mais uma bicicletada em Vitória-ES: "Liberte sua fantasia! Bicicletada dia das Bruxas!"
Leve sua bicicleta e participe desse importante evento.
Postado por Thalismar

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Estímulo a indústria automobilística (-IPI) = Trânsito congestionado


E como se resolve esse problema? Estímulo ao trasporte público e às formas alternativas de mobilidade como a bicicleta? Infelizmente o poder público, atrelado a interesses privados, opta por soluções de engenharia, isto é, a ampliação de vias, de viadutos, construção de novas pontes.... um circulo vicioso. O problema da mobilidade não é resolvida, mas apenas amenizada por um curto período.
Fonte: A Tribuna, 17 de outubro de 2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Globalização das remoções forçadas...

Esse vídeo retrata a violência das remoções forçadas em diferentes países. Tanto no Brasil, como na Índia ou México, verifica-se a violação dos direitos da população mais pobre das cidades. O processo revela contornos muito semelhantes. De um lado, a necessidade de realizar grandes projetos de infraestrutura, que beneficiam sobretudo o capital financeiro e as grandes empreiteiras e, de outro, a população que pouco ou quase nada será beneficiada por esse "desenvolvimento". E para que o "desenvolvimento" não emperre por causa de centenas ou milhares de família, o Estado entra em cena e resolve a situação: remoções forçadas. Mas, apesar do cenário obscuro, as experiências de resistência tem pipocado por tudo o mundo. Se as remoções se globalizam, as lutam também se globalizam.
Para ativar a legenda clique no botão CC, no canto inferior direito e selecione português. 



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Seminário Aberto de Mobilidade Urbana - 25 de Outubro de 2012

A mobilidade urbana é, certamente, um dos grandes problemas de nossas cidades. A expressão desse problema se dá de diferentes formas: ônibus lotados, congestionamentos, acidentes de trânsito, atropelamentos de pedestres e ciclistas etc. Embora seja um problema que atinge a tod@s, poucos são ouvidos. Algumas vozes ecoam na grande mídia: especialistas em trânsito (tratando do problema técnico) e o poder público. Mas, o que você pensa sobre mobilidade urbana? 
No dia 25/10 (quinta-feira) será realizado o Seminário Aberto de Mobilidade Urbana, evento organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL-GV) e a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB-Vitória). 

O evento será estruturado em dois momentos: 
1- Grupos de Trabalho (GTs): Discussões temáticas 
  • Cicloativismo - A bicicleta como alternativa de transporte
  • Passe Livre concedido pelo Governo Estadual
  • Mídia, Tansporte e Mídia Aternativa - Informação e contra-informação
Horário: 16 às 18 hs
Local: Salas de aulas - IC 4(2o Piso)

2- Debate sobre as alternativas para a mobilidade urbana na RMGV: BRT (Bus Rapid Transit) e Tarifa Zero
Horário: 18:30 às 22 hs
Local: Auditório do IC 4
Postado por Thalismar

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Minha Casa, Minha Vida: Potencializando a valorização (especulação) fundiária

Inicialmente, o limite de financiamento do MCMV para os maiores municípios da RMGV era de R$ 100 mil, depois esse valor foi para R$ 130 mil. E agora já chegou a R$ 145 mil! Na capital, Vitória, o valor do financiamento chega R$ 170 mil. Estudos já vem comprovando que o programa do governo em vez de resolver o problema habitacional, ou pelo menos amenizá-lo, tem reforçado a valorização fundiária, o que encarece o preço final da habitação. O poder público em vez de atacar a especulação fundiária/imobiliária, ao elevar o limite financiado reforça a principal causa do déficit habitacional no país. E o absurdo maior é que os nossos impostos são convertidos diretamente em ganhos privados, por meio dos subsídios. Leia a matéria abaixo sobre essa questão no Espírito Santo: 

Limite de preço do Minha Casa Minha Vida passa para R$ 145 mil no Espírito Santo


Lúcia Gonçalves


O Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) reajustou os valores máximos para imóveis adquiridas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida, de acordo com as cinco classificações de municípios e regiões metropolitanas por número de habitantes.

O teto passou para R$ 190 mil no Distrito Federal, São Paulo e do Rio de Janeiro. Os municípios com mais de 1 milhão de habitantes, que tinham teto de financiamento de R$ 150 mil, passam agora para R$ 170 mil; de 250 mil pessoas em diante, de R$ 130 mil para R$ 145 mil; com população acima de 50 mil habitantes, o teto passa de R$ 100 mil para 115 mil; e nos demais municípios, o valor máximo aumenta de R$ 80 mil para R$ 90 mil.


O Conselho Curador do FGTS também reajustou, de R$ 23 mil para R$ 25 mil, o valor dos subsídios para as famílias com renda mensal até R$ 1,6 mil – faixa de rendimento mais baixa do Minha Casa, Minha Vida. A partir daí, o subsídio cai gradualmente, conforme a renda.



O valor do subsídio foi atualizado em 13% calculado com base no reajuste do INCC de agosto, para reposição da inflação e maior rentabilidade dos imóveis. Já o valor máximo dos imóveis subiu levando em conta o preço de mercado, segundo o Ministério do Trabalho.

Houve pequenas correções também nas três faixas posteriores de renda, consideradas pelo programa. A segunda faixa, que ia de R$ 1.600,01 a R$ 2,325 mil passa para R$ 2,455; a terceira faixa de ganhos, até R$ 3,1 mil, sobe para R$ 3,275 mil; e o teto da quarta faixa continua em R$ 5 mil.
As taxas de juros ao ano permanecem as mesmas, de 5% e 6% para as duas primeiras faixas. Na terceira faixa houve uma ligeira redução, com queda de 8,16% para 7,16%.
Nas transações no âmbito do FGTS, a renda familiar pode chegar a R$ 5.4 mil. Porém, a taxa permanece em 8,16% para rendas superiores a R$ 5 mil.
Hoje, em torno de 60% dos imóveis em construção na Grande Vitória, segundo dados do Censo do Sinduscon-ES se ajustam ao programa Minha Casa, Minha Vida. E muitos projetos que estavam fora do programa agora poderão ser retomados pelas construtoras, principalmente em Serra e Vila Velha.
Fonte: http://migre.me/b6IVx

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Por um um código de processo civil que respeito os direitos humanos

POR UM CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL QUE RESPEITE OS DIREITOS HUMANOS
Fórum Nacional da Reforma Urbana lança campanha para inclusão de propostas na alteração do Projeto de Lei 8.046/2010 que dispõe sobre o novo Código de Processo Civil

Frente às milhares de famílias ameaçadas de despejo por medidas liminares em todo Brasil, as Entidades do Fórum Nacional de Reforma Urbana, estão organizando um abaixo assinado em defesa da mudança do  procedimento legal das reintegrações de posse e das ações possessórias no caso de litígios coletivos pela posse dos imóveis urbanos e rurais.
Está sendo discutido no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 8046/2010 que irá alterar o Código de Processo Civil (CPC). O Código de Processo Civil é o instrumento que, entre outras coisas, regula o procedimento que o Juiz e os demais poderes públicos devem adotar nos casos de conflitos fundiários, tendo uma incidência direta nas ações de  reintegrações de posse  individuais e coletivas. A  regra geral são as ordens liminares de  reintegração de posse imediata, com o uso de força policial, nas áreas ocupadas para fins moradias e reforma agrária por famílias de baixa renda.
Nesse contexto, a alteração do Código de Processo Civil é uma necessidade urgente para garantia dos Direitos Humanos e da Função Social da Propriedade. Essa estratégia une campo e cidade, na busca por justiça, por acesso à terra e moradia. Lembramos que já existe uma proposta de emenda de nº 323/2011 com o relator da Reforma do CPC  que precisa ser ampliada para conter todos os pontos necessários para se evitar a execução de despejos expressos por via das liminares que ocasionam violações aos direitos humanos.
As emendas que defendemos à nova lei propõem mecanismos de prevenção e mediação dos conflitos fundiários rurais e urbanos  como as audiências com famílias afetadas, a participação do Ministério Público, da Defensoria Pública, entre outros atores,  obrigando  judiciário  a verificar o cumprimento da  função social da propriedade. As populações ameaçadas demandam dos entes públicos a implementação de políticas públicas para avançar na reforma urbana e agrária, com a efetiva aplicação da função social da propriedade.
PROPOSTAS
1°) Ampliar participação do MP:
O Art. 156 do PL 8.046/2010 passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art.156......................................................
III – nas ações que envolvam litígios coletivos de posse e propriedade sobre imóveis rurais ou urbanos, e demais causas que há interesse social evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte, com vistas à adoção das medidas legais de proteção das pessoas físicas ou jurídicas pertencentes a grupos vulneráveis ou de baixa renda”.
2°) Audiência prévia antes das medidas de urgência
O Art. 2º - O Art. 270 do PL 8.046/2010 fica acrescido dos § 2°, renumerando-se o atual parágrafo único, com as seguintes redações:
“Art. 270 .....................................................
§ 2º A medida de urgência será precedida de audiência de justificação prévia nos casos que envolvam interesses ou direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, a ser realizada em 72 (setenta e duas) horas, para a qual devem as partes ser notificadas.
3º) Função Social da Propriedade
Art. 3° - O Art. 547 do PL 8.046/2010 fica acrescido do inciso V, com a seguinte redação:
“Art. 547
V – o cumprimento da função social da propriedade”.


4°) Liminares, audiência e órgãos

Inclua-se o seguinte artigo 548-A ao PL nº 8.046/2010:
Art. 548-A. Nos casos de litígio coletivo pela posse e propriedade de imóvel urbano ou rural, antes do deferimento da manutenção ou reintegração liminar, o juiz deverá designar audiência de justificação prévia e conciliação entre as partes, seus representantes legais, com a participação do Ministério Público e dos órgãos responsáveis pela política urbana e agrária, que deverão para este fim ser notificados.
§ 1º o juiz também deverá, antes da decisão liminar, requisitar aos órgãos da administração direta ou indireta dos Municípios, Estados e União que forneçam as informações fiscais, previdenciárias, ambientais, fundiárias e trabalhistas referentes ao imóvel;
§ 2º Será intimada a Defensoria Pública para a audiência de conciliação prévia, caso os envolvidos não tenham condições de constituir advogado.
§ 3º A liminar poderá ser concedida somente após a averiguação do cumprimento da função social da propriedade.
§ 4º Caso as partes não alcancem conciliação nos termos do caput, o juiz deverá fazer-se presente na área do conflito coletivo pela posse da terra rural e urbana, acompanhado de representante do Ministério Público.
§5º Quando o litígio individual envolver população de baixa renda aplicar-se-á o § 2º.

Esse texto foi extraído do sítio do Fórum Nacional de Reforma Urbana. No sítio também é possível encontrar o abaixo assinado para as pessoas e entidades que quiserem participar mais ativamente da campanha.
 "Pelo fim das liminares sem ouvir a outra parte, em defesa de nossos direitos!"

Postado por Thalismar

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

BRT e Remoções na Grande Vitória

Nos últimos anos o número de remoções nas grandes cidades brasileiras tem se multiplicado. O Estado tem se esforçado na tentativa de preparar as cidades para o "futuro" (?), o que significa remover milhares de famílias a qualquer custo para a construção de obras de infraestrutura, em especial nas cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. E o poder público abre o caminho para o grande negócio que se tornou produzir espaço urbano. O Espírito Santo não terá cidades como sede da próxima copa, mas possui seu grande projeto de infraestrutura, o famigerado BRT (Bus Rapid Transit). Que basicamente se refere a reestruturação do trasporte público baseado em corredores exclusivos. 
Segundo o Jornal A Tribuna, de Hoje, 26/09, esse projeto demandará a demolição de cerca de 200 imóveis somente em Vila Velha. Lembrando que seu trajeto envolve ainda Vitória, Cariacica e Serra. É preciso ficarmos atentos a respeito dos processos de remoção, pois, a história e os exemplos de outros lugares nos mostram que o Estado, apesar de "democrático", é bastante autoritário quando o assunto é grandes projetos. Conforme a fala de uma possível futura removida de Vila Velha: "...o governo quer pagar um valor baixo pelo nosso imóvel. Não aceitamos o acordo e eles devem entrar na Justiça por causa disso."
Fonte: A Tribuna, 26 de setembro de 2012. Reportagem Especial. 

Postado por Thalismar

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Vozes da cidade: 2

Mais uma expressão da cidade. Esse graffiti encontra-se na BR 101 Norte, Serra, nas ruínas da antiga Atlantic Venner.
Postado por Thalismar

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Morte de motorista do Transcol

Ônibus em más condições mata motorista em Cariacica




As empresas de transporte dizem que gastam cada vez mais com a manutenção dos ônibus, o Governo do Estado fala que a frota é nova, a CETURB fala que fiscaliza...
E todo ano o governo diz amém as tais "planilhas de custo" e aumenta a tarifa do Transcol.
Enquanto isso um trabalhador morre tentando evitar uma tragédia ainda maior, o ônibus poderia ter atropelado várias crianças.
Moradores do bairro denunciam que acidentes como esse já aconteceram inúmeras vezes.

"Modelo" é como o governo estadual chama o Sistema Transcol.

Modelo é o bairro de Cariacica onde aconteceu esse crime contra um trabalhador.
Bairro periférico onde o povo é refém de ônibus que matam.

TV
http://g1.globo.com/videos/espirito-santo/estv-2edicao/t/grande-vitoria/v/motoristas-fecham-terminal-de-itaciba-apos-morte-de-colega-no-es/2132170/


Matéria

http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2012/09/motoristas-fecham-terminal-de-itaciba-apos-morte-de-colega-no-es.html

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Vozes da cidade: 1

"Enquanto Houver exploração, haverá guerra"
 Localização: Avenida Central, Parque Residencial Laranjeiras, próximo ao Cartório Antônio Maria.

A partir de hoje iniciamos um novo quadro no Blog, que chamaremos de "Vozes da cidade". Aqui postaremos flagrantes na cidade de pichações, graffitis ou outras expressões de apopriação da cidade. A proposta é dar visibilidade há determinados aspectos da cidade, escondidos no nosso cotidiano urbano cada vez mais apressado e tecnológico.

Postado por Thalismar

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Entrevista com Rodrigo Huebra: graffiti, pichação, geografia e cidade

Hoje apresentaremos a segunda entrevista realizada pela equipe do Blog Cidade como Direito, do GT de Assuntos Urbanos da AGB-Vitória. O convidado de hoje é Rodrigo Huebra. Morador do balneário de Bicanga, na Serra, é licenciado em Geografia e, atualmente, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFES. Para além da academia, Rodrigo é graffiteiro. E esta será a tônica principal de nossa conversa. Embora as vezes passe despercebido, os muros e as paredes das cidades revelam vozes, gritos, enfim, manifestações de um espaço urbano complexo e conflituoso. É com o objetivo de aprendermos um pouco mais sobre esse tema que convidamos Rodrigo, que além de grafiteiro, é geógrafo, e nos mostra relações entre esses saberes/práticas. 

"Tenho tentado retratar de forma artística um pouco do universo desses povos que historicamente sofrem com os descasos por parte do Estado e consequentemente o preconceito da sociedade como um todo, que de certa forma acaba por negar o seu passado."

1- Cidade Como Direito – Para começar a conversa, quando você começou praticar o graffiti? Onde você realizou os seus primeiros trabalhos?
Rodrigo Huebra – Meu afinco pelo desenho vem desde criança quando meu pai chegava da rua ou do trabalho e trazia revistas com figuras em preto e branco para serem coloridas. Sempre gostei de desenhar e pintar e tinha facilidade em olhar coisas ou outros desenhos e fazer uma cópia bem parecida. Meus primeiros contatos com o graffiti vieram através da internet. O que mais me chamou a atenção no graffiti foi à atitude e o fato de ser feito na rua em um local que não foi feito para receber um desenho artístico. Logo depois comecei a observa-los nas ruas da Grande Vitória e fiquei encantado com aqueles desenhos coloridos feitos na parede e com latas de spray. No início do ano de 2008 entrei em um curso de graffiti no CRJ (Centro de Referência da Juventude) em Vitória com aulas ministradas pelo grafiteiro Fagundes. Após aprender algumas técnicas comecei a ir para as ruas me arriscar. Na época morava em Vila Velha, logo, meus primeiros trabalhos foram feitos no referido município. Ainda não tinha um estilo definido, mas a vontade de ir para a rua era grande o bastante para que isso não se tornasse um empecilho. Atualmente a maioria dos meus trabalhos estão localizados na Serra, município onde resido. De alguns meses pra cá venho direcionando meus trabalhos para a cultura indígena. Tenho tentado retratar de forma artística um pouco do universo desses povos que historicamente sofrem com os descasos por parte do Estado e consequentemente o preconceito da sociedade como um todo, que de certa forma acaba por negar o seu passado. Essa vem sendo a tônica do meu estilo artístico dentro do graffiti. 

2- CCD – Para a maioria das pessoas, há uma certa confusão para se definir o graffiti e a pichação. Você pode definir melhor esses termos? São práticas antagônicas?
RH- Na minha visão não há como pensar o graffiti e a pichação de forma antagônica como tenta demonstrar o discurso oficial. Há uma série de questões que precisam ser debatidas antes de dizer que um é arte e outro é vandalismo para não incorrermos no risco de fazer uma análise superficial e pautada em juízo de valores. Em primeiro lugar há que se questionar o que é arte e o que não é arte? A linha que separa essas duas concepções é muito tênue e por isso mesmo torna a delimitação do que é arte muito “escorregadia” eu diria. Em segundo lugar a raiz do graffiti é a pichação, ou seja, o graffiti veio da pichação. O que os diferencia são questões meramente estéticas. Essa diferença estética também leva as pessoas a fazerem julgamentos equivocados sobre a questão e assim acabam legitimando certos discursos sobre a pichação. Apesar das diferenças apresentam uma raiz em comum e essencial: a relação com a rua, tida como espaço substancialmente público e de diálogo, resignificando-a para além de sua mera funcionalidade, o famoso “direito de ir e vir”. Essa relação entre as diferentes formas de arte de rua é mais complexa do que tentam fazer parecer os debates oficiais. A discussão Graffiti x Pichação vai além da diferença entre ambos já que esse debate pautado nas diferenças entre esses tipos de manifestação tem um caráter muito mais normativo do que sociológico/geográfico. Pensado sobre a ótica da diferença o debate cria uma falsa dicotomia impregnada de moralismo, onde graffiti é arte e pichação é vandalismo, é sujeira. Além disso, a estética do graffiti parece incomodar menos as pessoas e por isso é mais aceito pela sociedade. A pichação sempre é colocada como algo que “suja” ou “emporcalha” a cidade como costumam dizer os jornais e as autoridades ao abordarem o tema. Porém, há que se pontuar, a sujeira não incomoda da mesma forma em todos os locais da cidade. Se assim fosse, não seria admitido que pessoas vivessem em condições sociais precárias, em barracos de zinco ou sobre esgotos que fluem à ausência de saneamento básico. Mas a “sujeira” incomoda aonde?  Nas vitrines, no espaço em que as aparências devem ser mantidas, o diálogo suprimido e as vozes dissonantes não podem ser amplificadas?
Segundo o artigo 65 da lei federal nº 9605/98, pichar é considerado crime ambiental podendo acarretar detenção, multa ou prestação de serviços comunitários. Como pode uma intervenção urbana ser considerada crime ambiental num país que executa grandes obras em áreas de proteção ambiental, aprova um Código Florestal plausível de questionamento e que sedia um evento de nível global onde os governantes não conseguem avançar na discussão de políticas de proteção a natureza? Por outro lado, a lei diz que não é crime “a prática do graffiti realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística”, desde que haja consentimento do proprietário. Ora, então graffiti feito sem o consentimento do proprietário deixa de ser graffiti?
Não podemos esquecer que muitas vezes o espaço negado ao pixador e ao grafiteiro é oferecido, inquestionavelmente, aos anúncios publicitários e aos outdoors. Enquanto a pixação e o graffiti subvertem essa lógica determinada entre espaço e propriedade na rua, os anúncios são convidados a impor sua presença na paisagem urbana à medida que fomentam a ciranda comercial, em função da qual devem girar nossas vidas, nossos estudos, nosso trabalho e todas as políticas que nos circundam.
Enquanto essa for a diretriz, manifestações artísticas e expressivas continuarão tendo mais espaço como questão de polícia do que como objeto de políticas públicas. Afinal, mais fácil do que reconhecer potencialidades é apontar delinquentes e encerrar de vez a discussão antes que ela fique profunda demais para ser debatida.

3- CCD - Eduardo Galeano usou a expressão "O que dizem as paredes" para citar algumas frases escritas nas paredes de algumas cidades da América Latina. O que você destaca nas suas leituras das “paredes” e dos “muros” da Grande Vitória?
RH- Tenho observado que além de graffiti e pichações os muros da Grande Vitória também estão sendo utilizados para manifestações referentes a algumas questões sociais e políticas, ainda que, de forma bem tímida.  O movimento do Passe Livre, que luta por melhorias na mobilidade urbana, parece ser o que mais se utiliza dos muros da cidade para passar alguma mensagem para a população. Palavras de ordem como “Pule” (referência a pule a roleta) e Tarifazero.org (blog do movimento) vem se tornando comum na paisagem urbana da Grande Vitória. Percebo também intervenções feitas em prol do uso das bicicletas como meio de transporte na cidade  e intervenções para questionar nossa dependência em relação ao Petróleo. Em uma recente viajem que fiz pela América do Sul percebi que em países como a Bolívia o muro é utilizado de forma mais intensa para manifestações de ordem social e política. No Brasil essa prática ainda é pouco utilizada. Aliás, uma crítica que costumo fazer é que a maioria dos movimentos de luta social e política utilizam pouco a linguagem artística para fazer a crítica dos problemas que afetam a sociedade.         "Enquanto a pixação e o graffiti subvertem essa lógica determinada entre espaço e propriedade na rua, os anúncios são convidados a impor sua presença na paisagem urbana à medida que fomentam a ciranda comercial, em função da qual devem girar nossas vidas, nossos estudos, nosso trabalho e todas as políticas que nos circundam."

4- CCD - No bairro de Jardim Camburi, em Vitória, possivelmente no ano passado (2011), um grupo de artistas grafitou os muros de uma escola municipal do bairro, praticamente rodeando toda a escola. Durante a confecção dos desenhos muitas pessoas paravam para admirar. Os muros da escola chamam a atenção e trouxeram de certa maneira uma nova vida a escola, tornando-a mais “atrativa” para os estudantes e para quem passa. Como você vê isso, é assim mesmo? De que maneira o graffiti pode ajudar nesta resignificação dos lugares da cidade?
RH- Bom, eu não sei dizer se aquela intervenção no muro teve relação com alguma atividade interna da escola até mesmo porque eu não participei do evento. Porém, eu entendo que para a escola se tornar mais atrativa para os estudantes é preciso que a escola internalize o graffiti em suas atividades cotidianas devido ao potencial pedagógico desse tipo de arte. Ora, porque não pintar as paredes internas da escola? Por que não fazer que o estudante seja um dos protagonistas na produção do graffiti feito na sua própria escola, local em que ele está cotidianamente? Acho que levar o graffiti para dentro da escola, não apenas no sentido físico, mas também pedagógico, seria o primeiro passo para tornar a escola mais atrativa para o aluno. Em relação a última pergunta eu acredito sim que o graffiti tem a capacidade de resignificar  certos lugares da cidade. Eu entendo que o graffiti contribui, e muito, para romper o olhar “viciado” que as pessoas tem de certos pontos da cidade. Lugares deteriorados e abandonados que sofrem uma intervenção artística como o graffiti passa a chamar a atenção das pessoas de outra forma ao quebrar a monotomia das paisagens urbanas com o seu universo de cores e formas e ás vezes interagindo com a própria arquitetura urbana.
5- CCD – O grafite é considerado um dos elementos do Hip Hop, uma cultura contra-hegemônica, com raiz nas periferias. De que maneira, na sua opinião, o graffiti contribui para a visibilidade de uma outra cidade, isto é, de aspectos que se encontram imersos nesse cotidiano urbano cada vez mais alienado.
RH- Primeiramente é preciso dizer que nos dias de hoje o graffiti “extrapolou” o universo do Hip-Hop. Apesar de ter surgido dentro do movimento Hip-Hop o graffiti hoje consegue ser pensado e visto para além das fronteiras desse movimento. No início o graffiti trazia muito do universo do Hip-Hop nos desenhos, além das letras, que foram marcantes nos primórdios do graffiti, principalmente na cidade de Nova York que foi o lócus primordial de surgimento desse tipo de manifestação em meados da década de 70. Quando o graffiti é alçado a categoria de arte urbana ele passa a explorar de forma mais intensa outros universos e também começa a atrair pessoas que não são do universo do Hip-Hop ou do skate por exemplo. Eu mesmo sou grafiteiro e não vim do movimento Hip-Hop. Apesar de gostar de ouvir rap meu universo de origem, digamos assim, é outro. A leitura que faço disso é que antes o graffiti era mais utilizado para dar visibilidade ao universo de um movimento que outrora era fortemente marginalizado, como é o caso do Hip-Hop. Hoje a arte do graffiti ao explorar outros universos amplia o leque de temas que podem ser abordados pelos grafiteiros e possibilita, assim, visualizar outra cidade a partir de um horizonte mais amplo de relações.
6- No último Encontro Nacional de Geógrafos (ENG), realizado em Belo Horizonte no mês de Julho, você apresentou uma oficina relacionando a estética do graffiti e o ensino de geografia. Nos fale sobre essa relação. De que maneira o graffiti pode ser utilizado como uma ferramenta na sala de aula de geografia?
RH- No decorrer de minha trajetória enquanto geógrafo e grafiteiro comecei a perceber que esses dois universos podem dialogar com muito potencial. Desde 2010 venho tentando fazer isso. Apesar de não ser algo inédito dentro da Geografia, é algo ainda muito incipiente eu diria. Incipiente não só dentro da Geografia, mas do ambiente escolar de um modo geral.
A Geografia entende o espaço geográfico (seu objeto de estudo) ao mesmo tempo como um produto e uma condição para a reprodução de uma sociedade. E o graffiti é entendido, na visão da Geografia, enquanto prática e discurso que se apropria do espaço numa relação que muitas vezes é conflituosa com a ordem hegemônica e que não se manifesta apenas por condições estruturais, mas também de todo um imaginário constituído. O graffiti encontra-se entre duas percepções: uma da sociedade instituída, que o rotula no seu sentido mais amplo enquanto ato de vandalismo; e a dos próprios grafiteiros que o consideram como uma forma de arte alternativa, como contracultura, onde se manifesta o desejo da criatividade, estimulado por vezes pela crítica a realidade social ou pelo simples desejo de embelezar os espaços urbanos. Porém, o graffiti não se fecha em si, porque a sua prática exige uma experiência estética com outros tipos de arte, de linguagem, de escrita e de conhecimento das técnicas e estilos que estão imbuídos dentro desta arte. É justamente nesse ponto que acreditamos que esteja a potência educadora do graffiti. O professor, que possui também o papel social de ampliar o universo cultural dos discentes, deve utilizar estratégias para que o processo de ensino aprendizagem conduza a algum tipo de transformação no aluno. Essas estratégias devem ser provocadas ao nível dos esquemas mentais dos alunos, da sua criatividade e expressividade contribuindo para um crescimento mais consciente e responsável por parte do aluno seja dentro ou fora do ambiente escolar.
Alguns autores consideram a escola o lócus privilegiado de apropriação e criação de cultura (entendida aqui como objetivação humana) e tendo em vista tanto a inserção de alunos quanto de professores em ambientes culturais intra e extra-escolar. Nesse sentido a experiência e a formação estético-cultural desses sujeitos se tornam elementos importantes a serem absorvidos enquanto parte do processo educativo.
Essa formação, que chamaremos aqui de estético-cultural, pode e deve ser articulada ao mundo da cultura enquanto leitura do real. Na atividade docente, que tem entre seus objetivos a formação de seres humanos, esse tipo de experiência estético-cultural dele (professor) e do aluno proporciona muito mais do que apenas o ensino/aprendizagem do conhecimento científico, mas também de conhecimentos diversos produzidos sócio-historicamente. As artes, cada qual com sua linguagem específica, são manifestações da ação historicamente determinada pela humanidade e possuem um potencial transformador. Sendo assim, o graffiti enquanto manifestação cultural oriunda das ruas permite essas transformações nos indivíduos já que possibilita a instituição de novas relações sócio-espaciais por exemplo.