No mês de julho foi
aprovada pela Câmara de Vereadores de Vila Velha e sancionada pelo Poder Executivo,
apesar de alguns vetos, importantes alterações no Plano Diretor Municipal (PDM)
(Lei municipal n0 4.575/2007). Um dos pontos que mais chamou a
atenção negativamente foi a criação de Zonas Industriais (ZIs) e Zonas de
Interesse Turístico (ZITs), convertendo boa parte da área rural em urbana.
Tais alterações na
legislação municipal revelam uma intencionalidade deliberada do poder público
local, articulado a determinados setores privados, de colocar Vila Velha na
rota dos investimentos industriais e logísticos. A globalização tem estimulado
uma competitividade cada vez mais acirrada entre os lugares por investimentos
econômicos. Nesse contexto, o papel econômico das cidades se amplia, ao mesmo
tempo, a qualidade de vida e o cotidiano urbano se empobrecem, se degradam.
Um suposto surto
industrial em Vila Velha impactará diretamente nas possibilidades de ganhos com
a terra urbana. Esse processo, por sua vez, nas condições atuais da dinâmica
imobiliária tende a produzir uma cidade ainda mais excludente e em fragmentos. O mercado imobiliário,
apoiado em grandes incorporadoras e crédito farto, intensificará a apropriação
da cidade.
Os edifícios na orla
de Vila Velha se multiplicarão e, ao mesmo tempo, a atividade imobiliária
lançará novos produtos imobiliários como os condomínios e loteamentos fechados.
Além dos grandes empreendimentos hoteleiros como os resorts. Por outro lado, com o encarecimento do solo urbano, a
produção de moradias populares torna-se ainda mais limitada. Esse problema social
torna-se ainda mais grave se levarmos em consideração o crescimento da
população por causa do processo migratório estimulado pela atividade
industrial. Essa população trabalhadora, sem alternativas, passará a se
submeter cada vez mais a alugueis e “puxadinhos” nos bairros populares.
A expansão do espaço
urbano tende a se realizar pelo mercado imobiliário, excluindo, portanto,
grande parte da população local e a que chegará estimulada pelo crescimento
industrial. Com isso, a população assalariada ficará reclusa em áreas cada vez
mais restritas e densas na cidade. Serão nesses lugares onde se concentrarão os
mais graves problemas urbanos e sociais da cidade.
Portanto, o que se
vislumbra para Vila Velha como resultado do modelo de desenvolvimento encampado
pelo poder público, e seus aliados, é uma cidade onde se acirra a exclusão
social e a identidade coletiva se esvai nos fragmentos urbanos.
Uma parte do
município será formada por grandes plantas industriais, retro-áreas e portos
secos, interligados por eficientes rodovias. Por outro lado, a verticalização
se intensificará na orla, “ilhas” residenciais se espalharão pelo município e a
periferia tornar-se-á cada vez mais densa, multiplicando os problemas históricos
dessa parte da cidade.
É essa Vila Velha que
queremos? Que desenvolvimento urbano é este?
Thalismar M. Gonçalves
AGB - Vitória-ES
Nota explicativa: este texto foi produzido em setembro de 2011 a pedido do Fórum de Defesa de Vila Velha na ocasião do Seminário "Vila Velha e os Rumos do Desenvolvimento", no qual a AGB foi convidada a participar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente e contribua com o diálogo...