Segue o link para texto de Henrique Alves publicado no site Século Diário (http://www.seculodiario.com.br) sobre a construção do Cais das Artes em Vitória, mais precisamente no bairro Enseada do Suá. No texto, Alves questiona a diferença dos gastos do Governo do ES em cultura nos últimos anos e o imenso valor e megalomania do projeto. Abaixo um pequeno trecho do texto disponível na integra no endereço: http://www.seculodiario.com.br/exibir_not.asp?id=9216
A estética da cosmética (por Henrique Alves)
Há uma contradição básica na política de incentivo da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) nesses últimos dois anos, os primeiros em que o Fundo de Cultura do Espírito Santo (Funcultura) vigorou. Foi gasto algo entre R$ 5 e R$ 10 milhões em mais ou menos 40 editais. Feitura de CDs, peças teatrais, de dança, ópera, curtas-metragens, longa, circulação de shows musicais, entre muitas outras iniciativas. No quesito produção, os editais acertaram em cheio. Mas onde tudo isso vai desaguar? A questão é mais que pertinente.
Aqui deveria entrar o Cais das Artes, projeto de suntuosidade (tanto de estirpe - a Mendes da Rocha - quanto de orçamento - ultrapassa os R$ 130 milhões) e prenhe de boas intenções. Porém, perdoem, desnecessário, dispensável, rústico, supérfluo. Provinciano. Basta um tantinho de bom senso para perceber que a tal “cultura capixaba” ainda pena com problemas dos mais elementares: ator capixaba (quase) não tem onde se apresentar; músico capixaba, idem; artista plástico, idem; cineasta, idem; bailarino, idem; a cultura popular, idem; todo mundo, idem.
Principal obra em termos culturais nos últimos anos, o Cais é também o símbolo maior de uma certa elitização que tem orientado as políticas culturais capixabas. De um lado, um espaço de magnitude para receber grandes espetáculos, que serão consumidos por um público seleto; do outro, o Edtih Bulhões demolido, o Carmélia fechado, o Galpão quase lá, a Estação Porto sucumbindo ao progresso, o Teatro da Ufes inacessível, e o Carlos Gomes aberto, mas nem tanto assim (para se apresentar lá, só via um concorrido edital). CONTINUA
Importante apontar a semelhança do projeto com a polêmica Cidade da Música do prefeito César Maia na cidade do Rio de Janeiro, e ainda inacabada. Uma obra caríssima que "inflaciona" ainda mais uma das áreas mais valorizadas pelo mercado imobiliária da capital.
Recordamos também que muitos proprietários de casas no bairro Enseada do Suá são contrários a obra, visto que será necessário a desapropriação de algumas residências para a construção de um estacionamento. Os moradores inclusive criaram um site contra a desapropriação, dispondo de textos sobre o assunto: http://www.desapropriaçãonão.com.br/
Postado por Flávio
Uma boa polêmica sobre os investimentos públicos na cidade para iniciar o blog...
ResponderExcluirA diferença entre os valores destinados a cultura popular e os gastos com o Cais das Artes revela a concepção de cultura que o Governo do Estado privilegia.
Esse fato mostra como a cidade como negócio se utiliza de discursos ligados a uma determinada "cultura" para se realizar e ganhar força. No entanto, como mostra a observação no final post, tem emergido movimentos contrários ao empreendimento, ainda que seja de moradores de classe média reivindicando o direito a permanência no local.